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Os banquetes de Dona Helena

11/06/2019 - Revista Helena nº 11 / Biblioteca Pública do Paraná

Ir à feira era tão importante quanto ir à missa. O peixe ela comprava nas barracas de sempre, 40 anos de Rio de Janeiro e todas as sextas ia religiosamente investigar o brilho no olho do bicho. Deixava temperando. Sábado era dia de banquete. Além do assado com cabeça e tudo, tinha torta de siri, pirão, chester, farofa, maionese e bolo de tapioca, aquele que quebrou o dente da neta. Os convidados minguavam de ano em ano, cada filho tinha uma desculpa original. O banquete, porém, continuava o mesmo: além do assado com cabeça e tudo, tinha torta de siri, pirão, chester, farofa, maionese e bolo de tapioca, aquele que quebrou o dente da neta. Não diminuía nenhum item do cardápio. As sobras ela congelava. À medida que o tempo passava, o freezer ficou pequeno para tanta comida que restava. Dona Helena, resistente, fazia o banquete.

Tradução do Conto Normalidade para o Francês pela revista Mapas do Confinamento

Despertou na hora de sempre e na hora de sempre foi ao banheiro. A luz oblíqua entrando no quarto dava a sensação de paz e dever cumprido depois de uma noite calma. Erguer-se para o trabalho ampliaria a certeza de estar em dia com a ordem de tudo. A ordem que governava sua existência, o universo, as horas, o curso da luz no tapete.

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